Um recente levantamento conduzido pelo MapBiomas, que analisou dados de perda de vegetação nativa entre 1985 e o ano passado, destaca o papel essencial das Terras Indígenas (TIs) como áreas de conservação no Brasil. O estudo revela que esses territórios estão entre os locais mais preservados do país, contrastando com as áreas privadas.
De acordo com os resultados, durante esse período de quase quatro décadas, as Terras Indígenas perderam menos de 1% de sua cobertura vegetal, enquanto as áreas privadas enfrentaram uma perda de 17%. As TIs, que abrangem 13% do território brasileiro e contêm 112 milhões de hectares (19%) da vegetação nativa do país, emergem como bastiões cruciais na proteção dos recursos naturais e na prestação de serviços ecossistêmicos.
Tasso Azevedo, um especialista na área, enfatiza que esses números ressaltam o papel vital das TIs na defesa dos recursos naturais, apesar das crescentes pressões exercidas por garimpeiros e madeireiros. Um exemplo disso é a Terra Indígena Yanomami, que tem sido alvo de garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. O estudo enfatiza o fato de que as TIs são guardiãs essenciais dos recursos naturais, proporcionando serviços fundamentais através das florestas que protegem.
Embora historicamente as Terras Indígenas tenham sido as áreas públicas menos afetadas pelo desmatamento, houve um aumento preocupante nas ameaças durante os primeiros três anos do governo Bolsonaro (2019-2021). Um levantamento publicado recentemente ressaltou a consolidação das ameaças nesses territórios nesse período, com seis das dez TIs mais afetadas pelo aumento do desmatamento sendo aquelas de povos isolados, incluindo as terras indígenas Ituna/Itatá, Kayapó e Munduruku no Pará, Yanomami em Roraima e Amazonas, Piripkura e Parque do Xingu em Mato Grosso.
O estudo analisou um total de 332 Terras Indígenas no bioma amazônico, com 44 delas abrigando povos isolados. Esses resultados chamam a atenção para a necessidade urgente de medidas efetivas para proteger esses territórios valiosos da crescente ameaça do desmatamento.
No cenário mais amplo, os dados do MapBiomas ilustram uma realidade preocupante: o Brasil perdeu aproximadamente 96 milhões de hectares de sua vegetação nativa entre 1985 e 2022. As imagens de satélite usadas na análise mostram uma redução significativa na cobertura vegetal original do país, passando de 75% para 64% nesse período. A Amazônia foi o bioma mais afetado, perdendo 13% de sua cobertura vegetal, equivalente a uma área do tamanho da França. A perda total de vegetação nativa do Brasil equivale a mais de 2,5 vezes o tamanho da Alemanha.
Os resultados desse estudo reforçam a urgência de ações coordenadas e eficazes para preservar as Terras Indígenas e as riquezas naturais do Brasil, garantindo um futuro sustentável para as gerações vindouras.