O prefeito de Alto Alegre, Pedro Henrique Machado (PSD), e o empresário Handerson Torreia de Lima, ambos detidos pela Polícia Federal sob suspeita de participação em um esquema de corrupção e desvio de recursos, mantinham uma relação estreita, conforme apontado em um relatório da Polícia Federal divulgado pela Rede Amazônica na sexta-feira (8).
Segundo o documento, Pedro Henrique e Handerson interagiam frequentemente por telefone, e o empresário chegou a assinar contratos em nome do prefeito. Handerson Torreia de Lima foi preso durante a operação Leviatã, deflagrada em 29 de agosto, enquanto o prefeito Pedro Henrique se entregou à PF em 31 de agosto, após ser considerado foragido.
Em resposta ao relatório da PF, a defesa de Handerson afirmou que “as acusações contra o Senhor Handerson não procedem, e sua inocência será demonstrada oportunamente nos autos”. A defesa também enfatizou que Handerson nunca assinou documentos que não lhe diziam respeito ou em nome de terceiros. O G1 buscou a defesa do prefeito, aguardando uma resposta.
A investigação da Polícia Federal, intitulada “Quem aprova o projeto é nós”, foca em um grupo suspeito de fraudar licitações e praticar lavagem de dinheiro em Roraima. Um dos principais pontos de suspeita envolve a contratação da empresa de Handerson, a HT De Lima, para consultoria e assessoria em projetos de engenharia no município de Alto Alegre.
Segundo a PF, Handerson atuava como uma espécie de intermediário nos processos licitatórios, cobrando propina entre os envolvidos no esquema. Estima-se que os contratos firmados com as empresas investigadas atingiram aproximadamente R$ 60 milhões.
As conversas interceptadas pela PF entre o prefeito e o empresário revelam uma estreita relação entre eles. Em uma delas, Pedro Henrique mencionou que iria a Boa Vista para assinar um processo de asfalto, mas Handerson informou que já havia feito isso por ele, o que levantou suspeitas sobre a proximidade da dupla.
Além disso, os investigados demonstraram preocupação em não deixar rastros das atividades ilegais, usando a expressão “não deixar pontas soltas”. A PF também descobriu que Handerson agiu para nomear uma pessoa na prefeitura para “vigiar” os processos e garantir que o “giro” do dinheiro permanecesse oculto.
A PF considerou que o prefeito Pedro Henrique conduzia a gestão de maneira “perversa”, priorizando o lucro em detrimento do bem-estar da comunidade. Ele chegou a afirmar que “quem aprova o projeto é nós, executa e fiscaliza, só presta conta depois”, revelando seu poder absoluto na situação.
A lavagem de dinheiro era realizada por meio de notas fiscais falsas e transferências de fundos para empresas, dificultando a rastreabilidade das transações financeiras.
O relatório também destaca a estreita relação entre empresários locais e políticos da região, levantando preocupações sobre o uso de influência política na alocação de contratos públicos.
A operação Leviatã, que resultou nas prisões de Pedro Henrique e Handerson, começou a ser investigada pela PF há um ano. Ela teve como objetivo desmantelar um esquema que tentava obter propinas em troca da direção de licitações públicas. Os policiais analisaram processos de contratação de serviços relacionados à iluminação pública e obras de asfaltamento e pavimentação.
O nome da operação Leviatã faz referência à obra de Thomas Hobbes, que idealiza a figura do Soberano com poderes absolutos. Neste caso, a PF agiu para restabelecer a ordem na municipalidade de Alto Alegre, afetada por desvios de verbas públicas e precarização da infraestrutura.
A investigação continua a revelar detalhes do esquema de corrupção, envolvendo empresários, servidores públicos e empresas de fachada. Tanto o prefeito quanto o empresário tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Marllon Sousa, do Tribunal Regional Federal da 1º Região.