A Superintendência de Comunicação da Assembleia Legislativa de Roraima apresentou nesta sexta-feira (26), o Podcast Setembro Amarelo: Vidas em Diálogo, diretamente do estúdio da Rádio Assembleia Márcia Melo Seixas. A edição foi transmitida ao vivo pelo canal 57.3 e está disponível na página oficial do Poder Legislativo no YouTube (@assembleiarr).
O programa reuniu representantes de instituições e profissionais da Saúde onde compartilharam reflexões sobre a importância do acolhimento e do enfrentamento ao tabu quando se trata da saúde mental.
Mediado pelo jornalista Johann Barbosa, contou com a participação da superintendente de Saúde e Medicina Ocupacional da Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR), Camila Costa; a psicóloga Kamila Trajano; e o médico e coordenador clínico do Centro de Atenção Psicossocial (Caps II), Octávio Felipe Ignácio Marques.
O apresentador destacou a relevância de abrir espaço para tratar do tema de forma acessível e permanente. Segundo Barbosa, o papel do Legislativo é também estimular a discussão e mostrar como o Poder Público contribui no fortalecimento da rede de apoio.

“O podcast é uma forma de tratarmos temas de uma maneira mais ampla, ouvindo mais pessoas e com uma conversa mais informal. Estamos na campanha Setembro Amarelo e é bem importante falar sobre as ações da Assembleia, mas principalmente reforçar que saúde mental é um assunto para ser tratado o ano inteiro”, pontuou.
Um dos destaques do episódio foi o projeto “Tamo Junto”, desenvolvido pela Superintendência de Saúde da ALERR em escolas da capital e interior. Camila Costa explicou que a iniciativa nasceu da preocupação com o número de suicídios entre adolescentes e jovens, faixa etária considerada vulnerável pela Organização Mundial da Saúde.

“O público participou mais do que a gente esperava, os estudantes interagiram bastante. A gente estudou muito antes, bolou uma linguagem acessível e pensamos em ações que pudessem acolher. O resultado foi tão positivo que várias escolas já pediram para continuar além de setembro, e nossa ideia é expandir para outros municípios”, contou.
A superintendente ressaltou, ainda, que o retorno dos alunos foi surpreendente, inclusive com casos em que jovens chegaram a participar mesmo após momentos de crise, recebendo acolhimento da própria equipe.
“Em uma das escolas, um estudante estava em crise de ansiedade. Foi acolhido antes da ação, depois interagiu e acabou sendo um dos mais participativos. Situações como essa nos mostram como é essencial estar perto, ouvir e criar esse ambiente seguro para que eles se expressem”, destacou Camila.
A psicóloga Kamila Trajano completou lembrando a importância de ensinar técnicas simples que podem auxiliar no manejo da ansiedade.

“A gente fala sobre estratégias de respiração, que parecem simples, mas funcionam. Foi interessante quando um aluno reconheceu a técnica como ‘cheirar a flor e soprar a vela’. Isso mostra que eles entendem e se apropriam das ferramentas que podem ajudá-los no dia a dia”, disse.
Preconceitos
Outro ponto debatido foi o preconceito em relação à busca por atendimento psicológico. Kamila Trajano explicou que o acolhimento inicial pode ser decisivo para identificar quadros de ansiedade, depressão ou outros transtornos.
“É muito importante o acolhimento adequado, porque muitas vezes a pessoa não consegue identificar de onde vem o sofrimento. O psicólogo pode reconhecer sinais de um transtorno e orientar sobre os caminhos para tratamento. A escuta em si já traz alívio e abre espaço para buscar soluções”, afirmou.
A questão do preconceito também foi levantada pela jornalista Francis Carvalho, que enviou uma pergunta pelo YouTube, sobre como os memes e outros conteúdos que banalizam o Caps podem afetar os serviços oferecidos pela instituição.
O médico respondeu à questão, relatando que esse tipo de material, seja nas conversas entre amigos ou nas publicações em redes sociais, tem impacto direto tanto em jovens quanto em adultos atendidos nos centros de atenção psicossocial.

“Eu já ouvi relatos de pacientes graves, inclusive adultos entre 40 e 50 anos, sofrendo por conta de piadas desse tipo. Isso vira uma forma de bullying, seja nas escolas ou entre grupos em redes sociais. Quando a saúde mental é tratada de forma pejorativa, não se propaga a seriedade que o assunto exige”, afirmou Octávio Marques.
Ele acrescentou que pessoas com transtornos de personalidade instável, como o borderline, são especialmente vulneráveis às críticas e podem chegar a atos extremos diante de situações que para outros parecem pequenas.
“Existe uma parcela da população que tende a sofrer por críticas mais do que a maioria. Para alguém com transtorno de personalidade, uma brincadeira considerada boba pode ser sentida de forma devastadora. Esse grupo, inclusive, é o que mais apresenta efetividade em cometer suicídio, justamente pelo impulso e pela instabilidade emocional”, alertou o médico.
Redes Sociais
As redes sociais e sua influência no comportamento dos jovens também entraram na pauta. Camila Costa relatou que, ao longo das atividades do projeto “Tamo Junto”, o tema aparece de forma recorrente.
“Quando perguntamos sobre ficar sem internet, a maioria respondeu que isso gera alto nível de estresse. O mesmo acontece com comparações em redes sociais, o que mostra como isso impacta diretamente o bem-estar dos adolescentes”, relatou.
Atendimento ao servidor
O diálogo também destacou o serviço de psicologia ofertado pela ALERR aos servidores. Camila Costa revelou que de janeiro a agosto deste ano, mais de 600 atendimentos foram realizados pela equipe de psicólogos da Superintendência.
“Temos quatro profissionais que atuam diariamente, de forma presencial e híbrida. Além de atender servidores, elas participam do projeto Tamo Junto, o que amplia o alcance do trabalho. É gratificante ver a receptividade dos servidores e, além disso, dos estudantes, professores e gestores”, acrescentou.
Mensagem
O psiquiatra Octávio Marques reforçou que falar sobre suicídio e sofrimento psíquico é fundamental para salvar vidas. Segundo ele, muitas pessoas ainda acreditam que abordar o tema pode estimular pensamentos de autodestruição, quando, na prática, acontece o contrário.
“Existe uma crença de que, ao perguntar sobre suicídio, você vai induzir alguém a pensar nisso. Mas o efeito é justamente o oposto. Se eu pergunto e a pessoa está pensando, tenho mais chance de intervir positivamente e salvar a vida dela”, explicou.
Acrescentando ao episódio, Marques reforçou a necessidade de fortalecer a rede de atenção psicossocial em Roraima e em todo o país. Para ele, mais do que campanhas pontuais, é preciso investir em ações permanentes e acessíveis.
“Ainda faltam muitas ações práticas no manejo de pessoas em risco. Mas o caminho é dar luz ao tema, garantir acolhimento e mostrar que existem serviços como os CAPS e a atenção básica prontos para atender. Escutar o sofrimento já é um passo fundamental para salvar vidas”, concluiu.
Onde assistir
Quem não pôde acompanhar ao vivo pode rever a edição no canal do YouTube (@assembleiarr) e nas plataformas TV ALERR Play, Spotify e Deezer. O podcast faz parte de uma série da Superintendência de Comunicação da Assembleia Legislativa, que já produziu, com esta edição, 25 episódios sobre temas relevantes para a sociedade.
Texto: Bruna Cássia
Fotos: Marley Lima
SupCom ALERR
Fonte e imagens: ALE-RR POR SUPERVISÃO DE COMUNICAÇÃO– Leia a matéria completa aqui