Por Marcus Miranda
Boa Vista enfrenta um dos meses de julho mais chuvosos de sua história. Até o momento, já foram registrados 469,2 milímetros de chuva na capital, volume consideravelmente acima da média histórica para o período, que é de 308 mm, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O levantamento é reforçado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O excesso de precipitação tem causado impactos significativos no sistema de drenagem da cidade, que opera em estado de alerta. Com os rios e igarapés cheios, o escoamento da água da chuva se torna mais lento, provocando alagamentos em diversas áreas, principalmente nas regiões mais baixas e próximas a lagoas.
De acordo com a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER), o rio Branco já atinge a marca de 7,87 metros — a apenas 13 centímetros da cota de alerta. A previsão é de que o nível continue subindo nas próximas semanas, com acumulados de até 150 mm previstos, segundo boletim do Cemaden.
A situação tem mobilizado diversas frentes da Prefeitura de Boa Vista. As equipes da Patrulha da Chuva estão nas ruas atuando em pontos críticos, realizando a limpeza de canais, desobstrução de bueiros e prestando assistência à população. “Estamos acompanhando de perto o volume de chuvas e o comportamento do rio Branco. Nossas equipes seguem atuando para minimizar os impactos”, declarou o prefeito Arthur Henrique.

Fatores naturais e humanos agravam situação
Segundo o especialista Luis Felipe, mestre em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e assessor técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), Boa Vista passa por um período de transição climática. O fim do fenômeno El Niño e a chegada do La Niña devem intensificar ainda mais as chuvas nos próximos meses.
Luis explica que fatores naturais, como o relevo plano da cidade e o lençol freático superficial, dificultam a absorção da água da chuva. “Boa Vista está situada em uma área que já foi ocupada por lagoas e igarapés. O solo encharca com facilidade, e isso favorece alagamentos mesmo após poucas horas de chuva contínua”, afirmou.

Além disso, problemas causados pela ação humana agravam os efeitos das chuvas. O descarte inadequado de lixo entope o sistema de drenagem, dificultando o escoamento da água. Apenas na última segunda-feira (21), cerca de 400 toneladas de resíduos foram retiradas de ruas e canais.
As ocupações irregulares em áreas de preservação também são apontadas como fator de risco. “Quando se constrói sobre áreas alagadiças ou se elimina a vegetação nativa, o fluxo natural da água é interrompido. Sem alternativas, a água acaba invadindo ruas e residências”, alertou o especialista.
Obras de drenagem reduzem pontos críticos
Apesar dos desafios, a Prefeitura de Boa Vista tem intensificado os investimentos em infraestrutura. Desde o início da atual gestão, 36 pontos críticos de alagamentos foram eliminados em 21 bairros da cidade. Ao todo, quase 48 quilômetros de rede de drenagem já foram executados.
Bairros como 13 de Setembro, São Francisco, Mecejana, Tancredo Neves, Paraviana e Santa Tereza estão entre os beneficiados com obras de drenagem concluídas ou em andamento.
“Nós mapeamos constantemente os pontos mais vulneráveis da cidade e estamos com frentes de trabalho em operação para ampliar a rede e garantir o escoamento adequado da água. Temos recursos assegurados para novas obras em diversos bairros”, ressaltou o prefeito Arthur Henrique.
A expectativa é de que, com a conclusão das intervenções e a continuidade das ações preventivas, Boa Vista consiga mitigar os efeitos das chuvas intensas e oferecer mais segurança à população.